LGPD no setor público: bases legais e riscos reais

Por Parceria Jurídica

30 de outubro de 2025

O cumprimento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no setor público é um desafio que envolve tanto a segurança jurídica quanto a eficiência administrativa. Órgãos governamentais lidam diariamente com informações sensíveis — dados pessoais, registros fiscais, informações médicas e dados de programas sociais — cuja proteção é essencial para garantir a confiança do cidadão. Em 2025, a adequação à LGPD tornou-se requisito de governança e transparência, impactando desde o atendimento presencial até os sistemas digitais de gestão pública.

A aplicação da lei requer clareza sobre as bases legais de tratamento, políticas de retenção e mecanismos de resposta a incidentes. A conformidade, mais do que uma obrigação normativa, é um pilar de ética e credibilidade na administração pública.

A implantação efetiva depende de profissionais capacitados e de estruturas tecnológicas que assegurem rastreabilidade, anonimização e controle de acesso.

 

Capacitação e responsabilidade técnica

O técnico em serviços públicos é figura fundamental no processo de adequação à LGPD. Ele atua na implementação de práticas de governança de dados, controle documental e registro de atividades de tratamento. Sua formação o prepara para compreender as bases legais aplicáveis e garantir que o tratamento de informações pessoais ocorra com finalidade legítima e proporcional.

Além disso, o técnico auxilia na elaboração de relatórios de impacto à proteção de dados e no monitoramento de políticas internas de privacidade. Sua atuação técnica e administrativa conecta as áreas jurídicas, tecnológicas e operacionais, assegurando a conformidade de ponta a ponta.

Esse papel torna-se ainda mais relevante em um contexto onde a transparência pública precisa coexistir com a proteção à privacidade individual.

 

Bases legais aplicáveis ao poder público

A LGPD prevê bases legais específicas para o tratamento de dados pelo poder público. Entre elas, destacam-se o cumprimento de obrigação legal, a execução de políticas públicas e o exercício de autoridade. Nesses casos, o consentimento do titular não é requisito, desde que o tratamento esteja devidamente fundamentado e limitado à finalidade pública declarada.

O princípio da necessidade deve nortear o uso de dados, evitando a coleta excessiva e a utilização para finalidades distintas das previstas em lei. O mapeamento de processos administrativos e o registro de atividades são instrumentos essenciais para demonstrar conformidade.

Órgãos que tratam dados sensíveis — como biometria, religião ou saúde — precisam adotar medidas adicionais de segurança e justificação, conforme o artigo 11 da LGPD.

 

Prazos de retenção e descarte de dados

A definição de prazos de retenção é um dos pontos mais críticos da aplicação da LGPD no setor público. Dados devem ser armazenados apenas pelo tempo necessário ao cumprimento da finalidade legal ou administrativa. Após o prazo, o descarte ou a anonimização tornam-se obrigatórios.

A ausência de políticas de retenção claras aumenta o risco de vazamentos e penalidades. A criação de tabelas de temporalidade documental, integradas a sistemas de gestão eletrônica, facilita o controle e o cumprimento das normas.

Essas práticas garantem eficiência operacional e demonstram respeito ao princípio da minimização de dados, reforçando a confiança pública.

 

Transparência e acesso à informação

A transparência é um dos pilares da administração pública, mas deve ser equilibrada com a privacidade do cidadão. O desafio consiste em publicar informações de interesse coletivo sem expor dados pessoais. A anonimização e a pseudonimização são técnicas fundamentais nesse processo.

Portais de transparência e plataformas de dados abertos devem adotar filtros automáticos para remover identificadores antes da publicação. Além disso, é essencial treinar equipes para distinguir entre dados públicos e pessoais, evitando violações involuntárias da LGPD.

O equilíbrio entre transparência e privacidade é o que garante legitimidade e responsabilidade na comunicação institucional.

 

Contratos e corresponsabilidade entre órgãos

Contratos administrativos e convênios interinstitucionais precisam incluir cláusulas específicas de proteção de dados. O compartilhamento de informações entre órgãos públicos e empresas privadas deve observar os princípios da necessidade e proporcionalidade.

Nos casos de terceirização, o operador de dados deve seguir as mesmas normas do controlador público, sob pena de corresponsabilidade. Auditorias regulares e avaliações de conformidade são práticas indispensáveis para mitigar riscos.

A inclusão de cláusulas de confidencialidade, gestão de incidentes e prazos de exclusão fortalece a segurança jurídica e previne litígios decorrentes de falhas no tratamento de dados.

 

Incidentes de segurança e resposta institucional

Mesmo com controles preventivos, incidentes de segurança podem ocorrer. A LGPD exige comunicação imediata à Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) e, quando necessário, aos titulares. Essa comunicação deve incluir a natureza do incidente, os dados afetados e as medidas corretivas adotadas.

Planos de resposta estruturados devem prever responsabilidades, fluxos de decisão e prazos de comunicação. Ferramentas de monitoramento e sistemas de logs ajudam a identificar vulnerabilidades antes que causem danos.

Mais do que reagir a incidentes, o setor público deve adotar postura preventiva — criando cultura organizacional voltada à segurança da informação e à proteção permanente da privacidade do cidadão.

 

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