Quais regras afetam a publicidade no setor industrial?

Por Parceria Jurídica

13 de agosto de 2025

Quando falamos em publicidade, é comum pensar nas campanhas que vemos na TV, nos outdoors ou nas redes sociais. Mas no universo industrial, as coisas funcionam um pouco diferente. A comunicação é mais técnica, mais segmentada, menos emocional — e, principalmente, cercada por regras e restrições que nem sempre são óbvias. Se engana quem pensa que, por se tratar de B2B, vale tudo.

A publicidade voltada para o setor industrial precisa equilibrar inovação com responsabilidade. E isso inclui respeitar normas legais, regulamentos específicos de cada setor e diretrizes éticas que garantem que a comunicação não gere interpretações erradas. A linha entre promover um produto e prometer algo que não se pode cumprir é mais fina do que parece — e as consequências podem ser pesadas.

Além das obrigações legais gerais, como o Código de Defesa do Consumidor, empresas industriais também lidam com legislações técnicas, exigências ambientais, normas da Anvisa, Inmetro, ABNT… e a lista continua. Tudo isso influencia diretamente na forma como produtos e serviços são divulgados. O que pode ser dito? O que precisa de respaldo técnico? Quais termos exigem comprovação?

Neste artigo, vamos abordar as principais regras que afetam campanhas de marketing industrial. Mais do que alertar para os riscos, o objetivo é mostrar como uma abordagem estratégica e bem-informada pode transformar restrições em diferenciais — gerando mais confiança, credibilidade e, claro, resultados.

 

Normas técnicas e a necessidade de comprovação

No setor industrial, afirmar que um produto “é o melhor do mercado” ou “garante economia de 50%” não é apenas uma jogada de marketing — é uma afirmação que pode gerar implicações legais. Por isso, campanhas precisam ser baseadas em dados verificáveis, testes técnicos e laudos reconhecidos. E é aqui que muita empresa se complica ao tentar adaptar linguagens típicas do varejo ao universo B2B.

As normas técnicas, como as da ABNT ou órgãos reguladores internacionais, servem como base para esse tipo de comprovação. Elas definem padrões mínimos de qualidade, desempenho e segurança. Qualquer informação que fuja disso pode ser considerada propaganda enganosa. E sim, mesmo que a intenção não tenha sido essa, a responsabilidade ainda recai sobre quem comunica.

Portanto, mais do que impacto visual ou apelo emocional, campanhas precisam de precisão. O cuidado com os termos técnicos, os percentuais, os estudos de caso e até os depoimentos de clientes deve ser extremo. É isso que constrói autoridade — e evita dores de cabeça jurídicas no futuro. A publicidade industrial não pode ser vaga. Ela precisa ser confiável, documentada e sempre — sempre — respaldada.

 

Regras específicas por segmento e regulamentações setoriais

Cada setor dentro da indústria possui suas próprias regras. Empresas que atuam com produtos químicos, por exemplo, precisam seguir regulações da Anvisa, do Ibama e do Ministério do Trabalho. Já quem lida com equipamentos elétricos deve observar normas da NR-10 e do Inmetro. E essas exigências impactam diretamente no conteúdo e na forma da comunicação.

É por isso que o marketing para indústrias precisa de um olhar aprofundado sobre o setor em que a empresa está inserida. Um erro comum é terceirizar a produção de conteúdo sem garantir que a equipe entenda essas especificidades. O resultado? Riscos legais, perda de credibilidade e até interdições por órgãos fiscalizadores.

Além das leis, existem práticas recomendadas por associações de classe e conselhos técnicos. Elas não têm força de lei, mas influenciam a percepção do mercado e podem ser exigidas em licitações, auditorias e certificações. Ignorar essas diretrizes é colocar em risco não só a campanha, mas o posicionamento da marca como um todo.

 

Marketing digital e responsabilidade sobre informações técnicas

No ambiente online, a velocidade da informação pode ser tanto uma vantagem quanto um risco. Publicações feitas sem o devido cuidado técnico — ou mesmo sem atualização — podem prejudicar a imagem da empresa e até gerar sanções. Aqui, a aplicação de AEO e SEO industrial exige atenção redobrada, pois envolve conteúdo técnico sendo indexado em larga escala.

Imagine, por exemplo, um artigo de blog afirmando que determinado equipamento reduz consumo energético em “até 40%”. Se essa informação não estiver embasada tecnicamente, pode ser questionada — por clientes, concorrentes ou mesmo órgãos reguladores. E como está em ambiente público, o impacto se espalha rapidamente.

Outro ponto delicado é o uso de imagens e símbolos técnicos. Usar selos como “ISO 9001”, “NR-12” ou similares sem ter a certificação ativa é ilegal. Mesmo que a intenção seja ilustrar ou gerar confiança, isso pode ser interpretado como falsidade ideológica. Portanto, todo material digital — site, redes sociais, vídeos, anúncios — precisa ser revisado por alguém que conheça as normas do setor.

 

Compliance e comunicação integrada nas campanhas

Integrar a comunicação com o setor jurídico e com a área técnica é essencial em qualquer ação publicitária no ambiente industrial. O Método Indústria 360° propõe exatamente isso: criar campanhas em que marketing, engenharia, qualidade e jurídico estejam alinhados. E isso não é burocracia — é garantia de segurança e efetividade.

Ao envolver todos os setores na criação de conteúdo e campanhas, a empresa reduz riscos e aumenta a coerência das mensagens. Além disso, promove uma cultura de responsabilidade compartilhada — em que todos entendem o impacto da comunicação no posicionamento institucional e até nas negociações com o mercado.

Outro ponto importante é o controle documental. Ter registros de testes, certificados, laudos e aprovações internas facilita muito caso alguma campanha seja questionada. Isso vale tanto para materiais externos quanto internos — desde uma peça para LinkedIn até uma apresentação de vendas usada pelo time comercial.

 

Cuidados com comparações e menções a concorrentes

Comparar seu produto com o do concorrente pode parecer uma boa estratégia, mas no setor industrial, isso precisa ser feito com extremo cuidado. Mencionar marcas, tecnologias ou soluções similares exige comprovação, base técnica e, muitas vezes, autorização legal. Agências especializadas como a agência Box orientam exatamente sobre esses limites e como evitá-los sem perder o impacto da mensagem.

O Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária proíbe comparações desleais, subjetivas ou que possam gerar confusão. E isso vale também para o B2B. A publicidade não pode sugerir que o concorrente é inferior sem apresentar dados claros, imparciais e auditáveis. E mesmo quando os dados existem, o tom da comunicação precisa ser ético e respeitoso.

Além disso, é necessário ter cautela com termos absolutos, como “o único”, “o mais avançado”, “o líder de mercado”. Todos esses títulos exigem comprovação robusta. E, se questionados, precisam ser defendidos com documentação técnica ou estatística. Caso contrário, a empresa pode ser processada por concorrência desleal ou propaganda enganosa.

 

Publicidade institucional e uso de dados sensíveis

Por fim, vale olhar para um tema cada vez mais discutido: a privacidade e o uso ético de informações. Campanhas industriais, especialmente aquelas voltadas para públicos específicos ou com foco técnico, muitas vezes lidam com dados sensíveis — como perfis de decisores, informações sobre máquinas ou processos internos de clientes.

Com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), as empresas precisam rever como coletam, armazenam e utilizam esses dados — inclusive nas campanhas. Um case publicado sem autorização, por exemplo, pode violar a lei. Da mesma forma, listas de e-mails compradas ou mal segmentadas podem gerar multas e prejuízos de reputação.

A publicidade institucional deve, portanto, respeitar não apenas as regras de mercado, mas também o direito à privacidade dos envolvidos. Isso inclui pedir autorizações explícitas, revisar contratos de uso de imagem e garantir que os dados coletados em ações de marketing sejam tratados com total transparência.

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